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  • Foto do escritorFilipe Starling

O casamento e a comercialização da sexualidade



Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga da humanidade... Não sei se isso é verdade. Só sei que prostituição é trocar sexo por dinheiro, você paga em dinheiro e a prostituta lhe dá acesso à sexualidade dela. No fundo é uma troca mesmo, uma transação, sexo por dinheiro.


Outro dia li sobre a história de uma prostituta que recebeu a proposta de um cliente que lhe ofereceu R$ 15.000 para ser amante exclusiva dele. Ou seja, ele ofereceu pagar R$ 15.000 para que só ele tivesse acesso à sexualidade dela. Aí eu logo pensei: isso se chama casamento, você paga para que o outro faça sexo exclusivamente com você, com a diferença de que neste caso o pagamento é na forma de amor e não de dinheiro. “Eu te dou meu amor e em troca você me dá acesso exclusivo à sua sexualidade.”


O curioso é que neste caso não chamamos isso de prostituição e sim de fidelidade. Fidelidade é alguém te prometer exclusividade sexual, é uma dívida que assumimos quando alguém aceita casar-se com a gente: a dívida da monogamia. É claro que ninguém vai prometer isso de graça, essa pessoa vai ter que ganhar algo em troca, se não for dinheiro, é amor, carinho, atenção, status, prestígio social etc...


O filósofo Immanuel Kant, em seu livro “Metafísica dos Costumes” de 1797, já definia o casamento como a “união de duas pessoas de sexos diferentes para a posse mútua e vitalícia de suas qualidades sexuais”. A certidão de casamento na verdade seria um contrato de posse, uma espécie de escritura sexual.


Uma vez que eu me caso com alguém, eu meio que passo a ser dono da sexualidade dessa pessoa e, por isso mesmo, a sexualidade dela passa a servir apenas a mim. Daí o antigo conceito de obrigação conjugal... “Já que eu paguei me casando com você, agora você me deve o acesso à sua sexualidade quando eu quiser.” Não é à toa que o chamado estupro marital ainda é tão recorrente em nossa cultura...


Como no sistema capitalista existem leis para regulamentar o direito à propriedade privada, a quebra do contrato de fidelidade sexual também é regulamentada por leis. Até o ano de 2015, em 21 estados dos Estados Unidos o adultério ainda era tipificado como um crime com penas variando de uma multa de dez dólares no estado de Maryland até quatro anos de prisão no Michigan. Seria este um crime de invasão de propriedade privada??


Acho que temos que evoluir muito nossa cultura no sentido de fortalecer a ideia de que a sexualidade de cada indivíduo deve servir apenas a si mesmo. A maioria dos traumas sexuais acontece quando a sexualidade do indivíduo passa a servir a outra pessoa e isso é sancionado pela cultura do casamento. Não deveríamos colocar nossa sexualidade na mão de ninguém, nem do marido, nem da esposa, nem da religião, nem do estado, nem da cultura...


A sociedade nos rouba da nossa sexualidade e um dos mecanismos de assalto à sexualidade é justamente através da cultura do casamento, porque quando a gente casa, nossa sexualidade passa automaticamente a servir à outra pessoa. Possessividade não é amor. Amor é quando eu digo para você assim: sua sexualidade pertence apenas a você, faça o que quiser com ela. O amor liberta... Se o amor te aprisiona de alguma forma não pode ser verdadeiramente amor. Não é porque usamos uma determinada palavra que a realidade se modifica. Tem gente que até mata por amor, não é mesmo?



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